Alimentos e bebidas “zero” são realmente saudáveis? Entenda 5021y
O consumo de alimentos e bebidas “zero” — como zero açúcar, zero calorias ou zero álcool — tem se popularizado cada vez mais, principalmente entre aqueles que buscam uma dieta equilibrada ou fazem tratamento para doenças crônicas, como o diabetes ou obesidade. Mas será que esses produtos são, de fato, mais saudáveis?
Para Gabriela Sangoi, atuante em nutrologia do Instituto Nutrindo Ideais, a associação entre o rótulo “zero açúcar” e uma alternativa mais saudável é, muitas vezes, enganosa.
“Produtos assim costumam conter uma combinação de adoçantes artificiais, corantes e conservantes que, embora não adicionem calorias, podem interferir negativamente no metabolismo, na regulação do apetite e até na saúde da microbiota intestinal”, afirma Sangoi à CNN. “O problema não está apenas na ausência do açúcar, mas nos ingredientes que entram no lugar dele — e seus efeitos, quando consumidos com frequência, ainda estão longe de ser neutros”, completa.
Um bom exemplo é o aspartame, um adoçante artificial comumente utilizado em refrigerantes e doces “zero açúcar”. Um estudo recente publicado na revista Cell Metabolism mostrou que o ingrediente pode impactar a saúde cardiovascular, aumentando os níveis de insulina em animais e contribuindo para a aterosclerose (acúmulo de placas de gordura nas artérias). A condição pode aumentar o risco de ataques cardíacos e derrames ao longo do tempo, além de elevar os níveis de inflamação.
Os pesquisadores ainda precisam investigar suas descobertas em humanos, mas os resultados do estudo se somam a outras evidências de que adoçantes artificiais podem ser prejudiciais à saúde. Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) listou, em 2023, o aspartame como um produto “possivelmente cancerígeno”, apesar de seguro em uma “ingestão aceitável” de 40 miligramas por dia.
“Em resumo, trocar açúcar por aditivos artificiais não é garantia de saúde. A qualidade nutricional deve sempre ser o critério principal de escolhas inteligentes, reforçando a importância de escolhas alimentares baseadas em saúde e não apenas em calorias”, orienta Sangoi.
Bebidas “zero álcool” são alternativas menos danosas, mas ainda é preciso cautela 1w33o
As bebidas zero álcool, como cervejas e vinhos, são uma alternativa mais saudável, pois eliminam o componente tóxico das bebidas alcoólicas: o etanol. Com isso, deixam de provocar efeitos como alterações hormonais, distúrbios do sono, complicações hepatológicas e inflamação crônica.
“Elas podem ser uma boa ponte para quem deseja reduzir ou parar o consumo de álcool, mantendo o hábito social sem prejuízos fisiológicos”, afirma Sangoi. No entanto, a especialista ressalta: “Nem todas são saudáveis. Algumas possuem altos teores de açúcar, adoçantes artificiais e aditivos, o que pode neutralizar os benefícios”.
Como fazer escolhas inteligentes ao comprar produtos “zero” 5c6fu
Para fazer escolhas inteligentes durante suas compras, é importante ler os rótulos adequadamente. Sangoi explica que, pela legislação, um alimento ou bebida pode se declarar “zero açúcar” se tiver até 0,5 gramas de açúcares por porção. “Isso abre margem para que o açúcar esteja presente em pequenas quantidades e, ainda assim, o produto leve essa alegação”, observa.
Por isso, o principal cuidado ao comprar produtos “zero” é ler a lista de ingredientes e verificar a tabela nutricional. Nomes como maltodextrina, xarope de glicose, dextrose, açúcar invertido ou frutose indicam presença de açúcares disfarçados. “Uma dica prática: quanto mais ingredientes você não reconhece ou não consegue pronunciar, mais processado e artificial provavelmente é o produto”, orienta Sangoi.
Vale tomar cuidado também com produtos “sem adição de açúcar”, mas que contêm o açúcar natural dos próprios ingredientes. “Esse rótulo só indica que o fabricante não colocou açúcar extra na fórmula — mas o produto ainda pode ter açúcares que já existem naturalmente nos ingredientes, como a frutose das frutas ou a lactose do leite”, afirma a especialista.
“O ponto-chave é: qual é a origem desse açúcar e como ele está inserido no alimento? Em um iogurte natural, por exemplo, a lactose vem com proteínas, cálcio e probióticos — e isso faz dele uma boa opção”, afirma Sangoi. Por outro lado, em sucos de fruta concentrados, mesmo sem adição de açúcar, a frutose está isolada na composição, sem as fibras da fruta inteira. Isso gera um pico de glicose no sangue e pouca saciedade, podendo contribuir para o diabetes e para o ganho de peso.
“Então, mais importante do que olhar só se tem açúcar adicionado ou não, é avaliar se o alimento é minimamente processado, rico em nutrientes e com boa densidade nutricional. Um ingrediente natural, quando fora de contexto, também pode perder o seu valor”, orienta.
Em relação aos produtos “zero álcool”, a principal orientação é ler a composição e observar a presença de açúcar e aditivos artificiais, como corantes, conservantes e estabilizantes, que também possuem impacto na saúde intestinal e imunológica, segundo a especialista.
Outro ponto é observar o teor real de álcool: algumas bebidas “zero” ainda contêm até 0,5% de etanol — o suficiente para gerar alerta em casos como gestação, pós-operatório ou uso de certos medicamentos.